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Este é um blog sobre o segundo ato da peça O Rei da Vela de Oswald de Andrade, que foi apresentado no Ced São Francisco pelos alunos do 3°F no dia 10/06/2010.

Personagens e Apoio


Personagens :
Pedro Henrique - Abelardo
Raquel Santiago - Heloisa
Jouel- Coronel Belarmino
Raquel Rodrigues - D. Cesarina
Diego - Totó
Patricia- D. Poloca
Fernanda - João dos Divãs
Tatiane - Americano/Banqueiro
Apoio:
Pedro Geremias -Sonoplastia
Thaisa- Diretora
Karina- Cenário
Luana- Figurino
Silmara- Ajudante de Cenário
Ana Carolina- Fotografa

Fotos da Apresentação




















2° Ato



Uma ilha tropical na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Durante o ato, pássaros assoviam exoticamente nas árvores bru­tais. Sons de motor. O mar. Na praia ao lado, um avião em repouso. Barraca. Guarda-sóis. Um mastro com a bandeira ame­ricana. Palmeiras. A cena representa um terraço. A abertura de uma escada ao fundo em comunicação com a areia. Platibanda cor-de-aço com cactus verdes e coloridos em vasos negros. Mó­veis mecânicos. Bebidas e gelo. Uma rede do Amazonas. Um rádio. Os personagens se vestem pela mais furiosa fantasia bur­guesa e equatorial. Morenas seminuas. Homens esportivos. Hermafroditas, menopausas.

Com o pano fechado, ouve-se um toque vivo de corneta. A cena conserva-se vazia um instante. Escuta-se o motor de uma lancha que se aproxima.

Pela escada, ao fundo, surgem primeiramente, em franca camaradagem sexual, Heloísa e o Americano. Saem pela direi­ta. Depois, Totó Fruta-do-Conde, tétrico. Sai. Em seguida, D. Poloca e João dos Divãs. Saem. Depois, o velho coronel Belarmino, fumando um mata-rato de palha e vestido rigorosamen­te de golfe. Sai. Segue-se-lhe um par cheio de vida: D. Cesarina, abanando um leque enorme de plumas em maiô de Copa­cabana e Abelardo I com calças cor-de-ovo e camiseta esporti­va. Permanecem em cena.

ABELARDO I E D. CESARINA.

ABELARDO I — Pronto! Arribamos. (Deposita-a na rede.) É uma lancha que chega. Deve ser o seu filho, o Perdigoto. Na Eu­ropa é assim. Toca-se sempre corneta quando chega uma lan­cha! A bandeira americana é uma homenagem. Indica al­mirante a bordo! O Americano nosso hóspede...

D. CESARINA — Pois é. Eu disse para o Belarmino. Nunca na mi­nha vida tomei um sorvete daqueles! Uma delícia! Só mes­mo um futuro genro distinto e rico como o senhor havia de me oferecer um sorvete daqueles. Como é que se chama?

ABELARDO I — É Banana Real!

D. CESARINA — O Totó é que se lambeu! Coitado! Está num desgosto...

ABELARDO I — É verdade! O Totó está de asa partida! Mas endi­reita, tomando Banana Real!

D. CESARINA — Também. Quebrar uma amizade de três anos. Eram como dois irmãos... Ele e o Godofredo viviam no mes­mo quarto. Por essas e por outras é que eu não gosto de me iludir. Os seus galanteios...

ABELARDO I — Os meus galanteios são sinceros... senhora minha futura sogra... Quem manda se vestir assim, com esse maiô jararaca! Qual é o santo que resiste? Olhe, é sério, sério demais!

D. CESARINA — Quer me deixar mais zangada ainda... Mais tris­te do que ontem. Continua a proceder mal?

ABELARDO I — Mas D. Cesarina! Me acredite! Por favor!

D. CESARINA — Mentiroso!

ABELARDO I — Eu terei culpa por acaso de ser fraco? Culpa de sentir.

D. CESARINA — Não é isso...

ABELARDO I — Mas que é então...

D. CESARINA — Tenho um pressentimento... O medo de não ser compreendida!

ABELARDO I — Mas que tem! Por que não sorri mais e exala esse perfume de rosas murchas? Banca um cemitério entre ci­prestes!...

D. CESARINA — É para onde eu acabo indo por sua causa...

ABELARDO I — Dou a César o que é de César. Ou melhor, a Cesarina o que é de Cesarina...

D. CESARINA — O senhor está é fazendo fita! Me diga uma coisa só. Por que é que o senhor mente tanto, hein? E me atenta tanto!

ABELARDO I — Juro!

D. CESARINA — O senhor sabe que eu não posso beber champagne. Outra noite, quando dançamos aquele foxtrote, me pôs na chuva, depois começou com aquelas graças e aquela imora­lidade. O senhor não sabe que Deus não quer que a gente diga as coisas que não sente? Que é pecado mortal cobiçar a mulher do próximo? Vai pro inferno...

ABELARDO I — Não. Eu já sei que vou pro purgatório...

D. CESARINA — A gente nunca deve dizer o que não sente. É hor­rível ser enganada!

ABELARDO I — E se fosse verdade! Se o meu coração se tivesse inflamado ao contágio do seu luminoso verão?

D. CESARINA — Ora, só eu sei a idade que tenho!

ABELARDO I — Meu Vesúvio!

D. CESARINA (Rindo e ameaçando.) — Olhe, que eu ainda acendo...

MAIS TOTÓ.

TOTÓ FRUTA-DO-CONDE (Aparece à direita, com uma vara de pes­car e um saco de bombons na mão, absorto e pesaroso.) — Eu sou uma fracassada!

D. CESARINA — Meu filhinho, venha cá. Benzinho do meu coração!

TOTÓ — Não quero. (Bale o pé.) Não quero. Me deixe!

D. CESARINA — Mas venha aqui, Totó. Venha conversar com sua mãezinha! Há quanto tempo você não me beija?

TOTÓ — Não quero, não quero, não quero!

D. CESARINA — O que que você vai fazer?

TOTÓ — Não está vendo? Pescar nos penhascos. É o meu destino!

ABELARDO I — Cuidado com essa praia! Tem cada bagre!

TOTÓ — Deus o ouça! (Aproxima-se e faz festas.) Meu futuro ir­mão. Que boas cores! Que idade o senhor tem, hein? Sabe qual é a luva da moda? Eu agora vou dar bombons aos ba­gres. É servido?

ABELARDO I — Eh! Obrigado, amigo! Não gosto desses peixes, não. Nem de bombons! Mas que família!

D. CESARINA — Me dê um beijinho, Totó!

TOTÓ (Indo pela escada do fundo.) — Não dou! Não dou! Não dou!

MENOS TOTÓ.

D. CESARINA — Ah! Coitado. Depois que ele brigou com o Godofredo está outro... Magro. Enfastiado...

ABELARDO I — Compreendo. Essas rupturas são dolorosas... (To­mando o leque sobre a mesa.) Mas que lindo leque...

D. CESARINA (Silêncio. Retoma o leque. Cena muda.) — Me dê o leque que guarda como um cofre as suas palavras arden­tes... do baile...

ABELARDO I — Que guarda a mais terrível e secreta das con­fissões...

D. CESARINA — Me diga uma coisa, Seu Abelardo, o senhor não tem ciúmes?

ABELARDO I (Surpreso.) — Ora essa!

D. CESARINA — Aquele alemão!

ABELARDO I — Alemão? Americano. Americano e banqueiro!

D. CESARINA — Ele anda com uns brinquedos brutos com a Heloísa!

ABELARDO I — Ah! É boxe. Ela está aprendendo a jogar boxe. De vez em quando uns golpes de luta livre... Ele é campeão de tudo isso em New York, Wall Street!

D. CESARINA — Pois olhe, Seu Abelardo. Eu ficaria roída se al­guém que eu amasse tivesse aquelas liberdades com um es­tranho.

ABELARDO I — Mas D. Cesarina! Eu me prezo de ser um ho­mem da minha época! A senhora quer que eu perca tem­po em ter ciúmes? (Imita dramaticamente um casal em choque.) Diga, Heloísa! Quem era aquele homem? — Eu fui lá só para dar um recado. — Baste lá! Confessas! Entraste naquela casa, naquele antro! Traíste-me, perjura! — Ah! Meu amor, que desconfiança também, que injustiça! Um homem feio daquele! Eu fui lá só por causa do reca­do! — Maldita! Pum! Pum! (Ri) Oh! Oh! ah! É isso? Essa ridicularia que divertiu e ensangüentou gerações de idiotas. É isso... O ciúme!

D. CESARINA (Levantando-se.) — Pois se o senhor não tem vergo­nha. Seu Abelardo, eu tenho! Olhe este leque! Este leque ainda é capaz de fazer muito estrago! (Deixa a rede.)

ABELARDO I — Compreendo! E o leque de Lady Windermere!

D. CESARINA — Seu Abelardo, não me olhe assim! Eu sou ligada pelo mais doce dos sacramentos ao mais digno dos esposos. Não! Nunca! A vida de uma esposa tem que ser uma re­núncia, um sacrifício, uma purificação! Por mais dolorosa...

MAIS D. POLOCA.

D. POLOCA (Surgindo na escada.) — Aí hein? Que lindo par...

D. CESARINA — Com licença. Eu vou fazer servir os rabigalos.

ABELARDO I — Rabigalos?

D. CESARINA — É a tradução de cocktail, feita pela Academia de Letras! (Sai.)

MENOS D. CESARINA.

D. POLOCA (Aproxima-se.) — Dando em cima da sogra!

ABELARDO I — Que é isso, D. Poloca? Bancando a polícia especial?

D. POLOCA — Ouvi tudo!

ABELARDO I — Pois ouviu mal. Eu estava muito respeitosamente explicando à senhora minha futura mãe que somos de duas gerações diferentes. Ela é uma personagem do gracioso Wilde. Eu sou um personagem de Freud!

D. POLOCA — Quê?

ABELARDO I — A senhora não conhece Freud? O último grande romancista da burguesia?

D. POLOCA — O senhor me empresta os romances dele? São ino­centes?

ABELARDO I — Oh! São. Não conhece O Complexo de Édipo? É o meu caso!

D. POLOCA — E eu Seu Abelardo? Sou personagem de quem?

ABELARDO I — A senhora é colaboração, Castilho e Lamartine... Babo! (Cantarolando.) Aí! Hein! Pensa que eu não sei?

D. POLOCA (Indignada.) — Pois o senhor é aquele cavalheiro dos Sinos de Corneville!

ABELARDO I — Acertou! Por que é que a senhora há de ser tão simpática quando estamos a sós. E tão infame na frente dos outros?

D. POLOCA — Mas como é que o senhor quer que eu proceda em sociedade?

ABELARDO I — Quero que proceda humanamente.

D. POLOCA — Desde quando que a humanidade é um pedaço de marmelada, Seu Abelardo? Eu defendo o meu ponto de vista de tradição e de família? Intransigentemente. Sou sua melhor amiga (Carinhosa.) em segredo. Mas não posso dar confiança em público a um novo-rico, a um arrivista, a um Rei da Vela!

ABELARDO I — E se eu a fizesse a Rainha do Castiçal?

D. POLOCA — Prefiro ser a neta da Baronesa de Pau-Ferro. A ne­ta pobre e inválida que sempre viveu do pão dos irmãos e cujo resto de família foi salvo por um... intruso!

ABELARDO I — Por um intruso...

D. POLOCA — Que nos tira da ruína mas tem que conhecer as diferenças sociais que nos separam. Tenho sessenta e dois anos. Vi as poucas famílias que restam do Império se degradarem com alianças menores. Como o meu mano que se casou com essa garça! Sei que é esse o destino da minha gente. Mas re­sisto é me opondo às relações fáceis e equívocas da socieda­de moderna.

ABELARDO I — Me diga uma coisa, D. Poloca, se não fosse esse avacalhamento, permita-me a expressão... É de Flaubert!

D. POLOCA — Diga decadência. Soa melhor!

ABELARDO I — Bem! Se não fosse essa decadência. É realmente, é mais suave. Como é que vocês, permita a expressão, comiam...

D. POLOCA — Seu Abelardo, a gente não vive só de comida!

ABELARDO I — Está aí um pomo em que eu discordo profunda­mente de Vossa Majestade! Não podemos mais nos enten­der. A senhora vive de aragens... Eu de bifes.

D. POLOCA — O senhor é um burguês! Eu uma fidalga que teve a ventura de beijar as mãos de Sua Alteza a Princesa Isabel, ouviu?

ABELARDO I — Mas me diga uma coisa só, D. Polaquinha, per­dão, D. Poloquinha. Em sua vida toda, tão cheia de nobre­za, nunca amou um plebeu?...

D. POLOCA (Graciosa.) — Em segredo. Mas nunca em público co­mo essa desfrutável que Deus me deu por cunhada!

MAIS HELOÍSA E JOANA.

HELOÍSA — Outro flerte! Ontem era a mamãe! Hoje tia Poloca. Quantos chifres você me põe por hora, Abelardo?

ABELARDO I — É em família. (Sentam-se rindo.) Não conta!

HELOÍSA — Contanto que você não me engane com o Totó!

JOÃO — O Totó é a minha diferença. Já está dando em cima do Americano! Basta a gente inventar alguém, lá vem ele! — Eu sou uma fracassada!

ABELARDO I — Coitado! Não leva vantagem... Está de asa partida!

JOÃO — Da outra vez também, lá em São Paulo, ele tinha bri­gado com o Godofredo. Ficou doente de tristeza! E mesmo assim me tomou o Miguelão! Bandido!

ABELARDO I — Mas o Americano que eu saiba aprecia o tipo más­culo de Heloísa. Mister Jones é lésbico!

JOÃO — O Americano gosta do chofer. Felizmente! Olha quem vem aí... O Coronel.

HELOÍSA — Papai!

JOÃO — Parece o Clark Gable!

D. POLOCA — Meu irmão está remoçando com essas roupas de carnaval!

MAIS BELARMINO.

BELARMINO — Continuo sempre a apreciar a paisagem que se des­cortina desta ilha encantada. Uma verdadeira ilha paradi­síaca. Aliás, o Rio de Janeiro talvez seja mesmo a mais bela cidade do mundo! Deve ser! Que baía. A mais bela baía do mundo! Nem Constantinopla, nem Nápoles, nem Lisboa!

ABELARDO I — De fato, Coronel.

BELARMINO — Lá em cima, o Corcovado com o Cristo de braços abertos. Consola-me ver o Rio de Janeiro aos pés da cruz! O Brasil é mesmo uma terra abençoada. Temos até um car­deal. Só nos falta um Banco Hipotecário!

ABELARDO I — Se bem que, na minha opinião, o Cristo devia estar um pouco mais perto de nós. Para controlar. Ouvir as nossas queixas. Assim ele fica muito longe... lá em cima...

HELOÍSA — Onde então Abelardo?

JOÃO — Onde?

ABELARDO I — Num sítio pitoresco, cá embaixo. E próximo. As­sim, no Saco de São Francisco...

BELARMINO — Muito bem pensado! No Saco de São Francisco. E junto a ele um Banco Hipotecário.

ABELARDO I — Para quê? Não temos mais nada que hipotecar...

BELARMINO — É verdade que já estamos muito endividados...

ABELARDO I — De tanga... Coronel. Como na época da des­coberta...

BELARMINO — Mas me diga uma coisa, Seu Abelardo, porque é que não pagamos as nossas dívidas com café. Temos dívidas. E queimamos café. Parece haver aí um mistério! Não acha?

ABELARDO I — De fato, roeu futuro sogro! Café é ouro. Ouro-negro! Estamos devendo e queimando ouro! Vou perguntar a Mister Jones... Estamos no fim. Na caveira.

BELARMINO — Um Banco Hipotecário, meu futuro genro, resol­veria a crise. Mas era preciso ser um banco fone...

ABELARDO I — Um banco americano... ou inglês...

BELARMINO — Perfeitamente. Depois que o Império soçobrou nas mãos inábeis dos ituanos, precisamos de capital estrangeiro. Empréstimos...

ABELARDO I — E emissões...

BELARMINO — Emissões também. Não sou contra as emissões, Se­nhor Abelardo! Mas sabe do que precisa o povo, de tranqüi­lidade para trabalhar. Evidentemente. Dêem-lhe tranqüili­dade e um Banco Hipotecário e verão os resultados...

ABELARDO I — Os próprios bancos nacionais podiam se transfor­mar... A carteira hipotecária de qualquer deles!

BELARMINO — Estão arruinados, meu amigo! Arruinados! Não agüentam os fregueses antigos. Os homens honrados não ar­ranjam lá um níquel! Não fosse a sua nobreza invulgar, tirando-me dos apuros em que estava, com aquele emprésti­mo... feito com garantias puramente morais! (Puxa um enor­me lenço vermelho e enxuga os olhos e a barba.)

HELOÍSA — Ora Papai!

ABELARDO I — Por quem é, (Consternação.)

HELOÍSA — Papai...

BELARMINO — Minha filha, quando te casares, quero que rezes. E sejas a mãe dos pobres, a protetora dos desvalidos...

HELOÍSA — Prometo papai! Onde vai agora?

BELARMINO — Andar, minha filha!

D. POLOCA — Andar, andar é a vida a bordo! Este verso é de D. Pedro II!

ABELARDO I — É, é! Estamos a bordo.

BELARMINO (Retirando-se declamatório.) — Que fazem os ho­mens novos? Que fazem os homens novos!

MENOS BELARMINO.

D. POLOCA — Os homens novos são como o senhor... um ateu!

um pedreiro livre, ouviu? E esse inglês... do chofer!

ABELARDO I — Que fim levou o Americano?

JOÃO — Decerto caiu dentro do copo de uísque!

ABELARDO I — Vou salvá-lo. Até já! (Sai pela direita.)

MENOS ABELARDO.

HELOÍSA — Tia Poloca está de bossa, hoje!

D. POLOCA — Eu não digo mais, porque vivo do pão alheio. Mas, no meu tempo, se escolhia. A gente não se casava com um aventureiro só porque é rico e foi aos Estados Unidos.

JOÃO — Por isso é que a senhora é virgem até hoje!

HELOÍSA — Com sessenta e três anos!

JOÃO — Já fez sessenta e nove!

D. POLOCA — Menina! Eu chamo teu pai! Vai ver coisas inocen­tes, anda! Vai ver o pôr-do-sol! Vai folhear o álbum de foto­grafias da família que eu trouxe! Quem sabe se os retratos dos avós te dão um pouco de vergonha! Vai ver o Perdigoto que chegou todo de soldado. Magnífico!

JOÃO — Aquele fascista indecente!

D. POLOCA — É o único que presta na família!

HELOÍSA — Não amola titia. Anda! Bestinha!

JOÃO — Eu tenho culpa dela ser cabeçuda?

D. POLOCA — No meu tempo, as meninas eram recatadas. Iam às novenas. Rezavam o terço. Hoje é o diabo quem manda!

JOÃO — O diabo é o homem mais encantador do mundo. O Ho­mem da Vela... de Heloísa.

HELOÍSA — O Rei da Vela. — Me dá um cigarro, tia.

JOÃO — Não quero saber. A vela dele é que nos salvou.

D. POLOCA (Fuma com Heloísa.) — Eu não gosto desse homem não. Não teme Deus. É capaz de não querer casar no reli­gioso... Mas o Perdigoto há de obrigá-lo. Este sim é um so­brinho que vale a pena! Me ensinou a tragar.

HELOÍSA — Casa! Ele está mudando. Me disse hoje que casa no religioso também. O cardeal virá à ilha... É uma honra! Um acontecimento!

D. POLOCA — Bem. Mas ele não tem família.

JOÃO — Nós temos demais. Eu não sei de nada, se não fosse ele... Depois que o Totó me tomou o Miguelão!

D. POLOCA — Aquele turco indecente!

JOÃO — Muito bom casamento. Palácio na Avenida Paulista! Ba­rata! Nota!

D. POLOCA — Mas é um assassino!

HELOÍSA — É sim João! Matou o irmão com dezoito tacadas...

JOÃO — Mas foi absolvido pelo júri. Privação de sentidos.

HELOÍSA — E de inteligência...

JOÃO — Estado normal. Mas se o Totó não aparecesse ele caía. Ia me dar uma vida daqui! O Totó é um bandido! Me to­mou o turco!

HELOÍSA — Esses anfíbios!

JOÃO — São uns miseráveis! Se não fosse o meu rei estava eu ain­da gastando o meu francês de Sion nos apartamentos e nos hotéis. E rolando de barata, fazendo força contra as midinettes... Umas safadinhas... à-toa...

HELOÍSA — Encontrei a Mag na Avenida, num luxo. Quem di­ria? Aquela chapeleirinha da Rua da Boa Vista. Um vestido roxo-batata! Alucinante!

D. POLOCA — D. Etelvina escreveu?

HELOÍSA — Telegrafou. Vem com os convidados amanhã. Vem es­friar! Aquela romântica. Enfim, Abelardo quer gente de raça...

D. POLOCA — As rainhas relações são sempre melhores que as suas...

JOÃO — Outra virgem! Essa é a tal que viaja com a radio­grafia dos intestinos, procurando celebridades médicas pa­ra, consultar!

HELOÍSA — É sim...

JOÃO (Roendo a unha do polegar.) — Mademoiselle Tubagem!

HELOÍSA — Dona Léa vem também amanhã... Madame La Barone de Machadô!

D. POLOCA — Aquela polaca aqui! Cinzas!

JOÃO — Polaca não, titia, po-lo-ne-sa! Muito distinta! O Décio foi vítima da própria ignorância em geografia. Casou com ela errado.

HELOÍSA — Como é isso João?

JOÃO — Nesse tempo, essas senhoras eram todas francesas. Ele casou-se, pensando que era uma francesa de Paris. Mas ela não conhecia nem Marselha!

HELOÍSA — A Migdal tem outros portos! Mas o essencial é que ela hoje é um pilar da sociedade. Uma fílantropa. Vai à missa todo dia...

JOÃO — Tem chelpa! (Começa a roer furiosamente a unha do polegar.)

HELOÍSA — E da Convenção Eleitoral Feminina... Capaz de ser eleita deputada pelo partido católico...

D. POLOCA — João, não me irrites com essa unha. (Pega-lhe no braço.)

JOÃO — Deixa! Ui!

MAIS ABELARDO E O AMERICANO.

ABELARDO I — Que luta romana é essa?

JOÃO (Debatendo-se.) — É essa cabeçuda dessa titia, que não quer deixar eu ter nem um vício...

D. POLOCA — Cala a boca! No meu tempo, as meninas só fala­vam depois dos dezoito anos!

JOÃO — Uma ova. Eu sou o João dos Divãs. Não é Mister John? John and John! Marca nova de uísque.

O BANQUEIRO — Yes, darling! Glorious day!

ABELARDO I — Mas você gosta mesmo de roer unha?

JOÃO (Pulando, deslumbrada.) Uhm! Uma maravilha! (Continua a roer.)

D. POLOCA — Ele chega a deixar crescer a unha, para depois pas­sar horas roendo...

ABELARDO I — Eu conheço uma que começou assim e acabou mastigando um balaústre!

JOÃO (Histérica.) — Deve ser divino! Ter gosto de unha! Vou ex­perimentar!

HELOÍSA (Festejando o braço do Banqueiro.) — Então, Jones, co­mo vão os negócios de Abelardo?

O BANQUEIRO — Finanças domina mundo. Abelardo, tem chei­ro... Vai dar salto...

ABELARDO I — No abismo...

HELOÍSA — Dos meus braços! Diga uma coisa, Jones, por que é que o Brasil não paga as dívidas com o café que está queimando?

O AMERICANO — No Brasil precisa aviões... Metralhatrices... Muitos...

HELOÍSA — Mas para quê?

O AMERICANO — Trocar por café... Oh! Good business! Shut up!

ABELARDO I — É verdade! A guerra! Precisamos nos armar para a guerra...

HELOÍSA — Mas contra quem?

ABELARDO I — Contra qualquer pessoa! Qualquer guerra. Externa ou interna. É preciso dar emprego aos desocupados. Distrair o povo. E trocar café pelos armamentos que estão sobrando lá fora. As sobras da corrida armamentista. Você não vê lo­go? Ou então contra a Rússia! A Rússia está aporrinhando o mundo!

JOÃO (Liga o rádio. Uma valsa de Strauss amaria o ambiente.) — Papagaio! Toda vida Strauss! Ora! (Vai ligar a outra esta­ção. O rádio guincha. Abelardo intervém.)

ABELARDO I — Não. Deixe Strauss! É o adultério! A voz mais pura do adultério... Escutem! (Liga o rádio.)

HELOÍSA — A grande guerra acabou com esses refúgios...

JOÃO — Prefiro um foxe...

O BANQUEIRO — Uma fox danz. Vamos Valz é triste!

JOÃO — Alô Jones! (Muda a estação e ao som de um foxe sai gru­dada no banqueiro.) Até à volta. Vou ver o pico do Itatiaia.

O AMERICANO (Rindo.) — Everest! Everest!

MENOS O AMERICANO E JOÃO.

D. POLOCA (Escandalizada.) Menina à-toa! Garota da crise! (Si­lêncio.) Vou me vestir para o banho de mar. Me refrescar des­ses calores! Heloísa, você vem... (Sai.)

HELOÍSA — Vou já, titia...

MENOS D. POLOCA.

Ouvem-se gritos ao fundo. Totó Fruta-do-Conde aparece na escada. Não traz nada nas mãos.

MAIS TOTÓ.

ABELARDO I — Que foi?

HELOÍSA — Totó... Que aconteceu?

TOTÓ — Um peixe enorme. Me tirou o anzol, os bombons. Le­vou tudo... Deve ter sido um tubarão.

ABELARDO I — Não. Decerto foi um peixe-espada. Como você ficou emocionado! Que palpitações...

TOTÓ — Decerto!

ABELARDO I — Pensei que você já estivesse habituado com essas pescarias...

HELOÍSA — Espera. Venho já. (Sai pela esquerda.) Vou me vestir.

MENOS HELOÍSA.

TOTÓ (Atira-se a uma cadeira.) — Eu pesco incessantemente há três dias. Por desgostos, Seu Abelardo!

ABELARDO I — Asa quebrada...

TOTÓ — Veja só! O Godofredo! Me misturar!

ABELARDO I — Isso é da vida, você se confortará, esquecerá!

TOTÓ — Nunca! Não posso esquecer.

ABELARDO I — Ora, o tempo é o grande remédio...

TOTÓ — Inútil. Foi um caso muito sério. Depois de tamanha de­dicação minha! Três anos! Foi muito sério!

ABELARDO I — Assaz sério! Mas tudo passa. Tout passe, tout casse...

TOTÓ — Se não fosse aquele detalhe! Imagine, eu disse ao Go­dofredo: Você pode me trair com qualquer mulher. Qualquer, heim? Mas com aquela não admito! E foi justamente com ela! Tenho provas!

ABELARDO I — Bem. Mas a natureza está cheia de imperativos...

TOTÓ — E onde fica a educação, Seu Abelardo? Onde ficam as convenções, os preconceitos sociais, as diferenças de origem e de classe... Tudo isso que torna o mundo delicioso. (Ge­me.) Me trair com uma mulher do Mangue!

ABELARDO I — Do Mangue?

TOTÓ — Do Mangue, sim. Foi um cataclisma. Sou uma fracassa­da! (Levanta-se.) Os peixes me assaltam, o mar me enerva, a paisagem me amorfina. Vou para o meu quarto... sim? (Sai.)

MENOS TOTÓ.

ABELARDO I — Vai... Ofélia... Entra para um convento! (Fecha o rádio.) Agora é o outro que chegou na lancha. O pau-d’água. Vem buscar dinheiro. Mais dinheiro! Passei a vida arrancando osso, pele e sangue de meio mundo para ser ex­plorado agora... por um fascista... colonial!

ABELARDO E PERDIGOTO.

Perdigoto entra, choca as botas e faz uma saldação militar cabalística. Abelardo senta-se sem responder.

PERDIGOTO — Glória! ABELARDO I — Que quer comigo?

PERDIGOTO (Sentando-se a cavalo numa cadeira. Tira um cigar­ro. Oferece. Fuma.) — Propor-lhe um negócio...

ABELARDO I — Mais um? Não conhece outro endereço?

PERDIGOTO — É uma transação que o interessa...

Silêncio.

ABELARDO I — O senhor é um crápula!

PERDIGOTO — Quem é o senhor para me dizer isso?

ABELARDO I — Um homem que matou a fome da sua família! Antes mesmo de entrar nela!

PERDIGOTO — Cão!

ABELARDO I — Insulta-me?

PERDIGOTO — Estou habituado a isso! Na fazenda ainda uso o chicote...

ABELARDO I — Mas não comigo, sabe? Insulta e maltrata os que trabalham... Os que lhe deram as belas roupas com que perde rios de dinheiro na Hípica e no Automóvel Clube... Feliz­mente isso acabou, meu amigo...

PERDIGOTO (Cínico.) — Não jogo mais!

ABELARDO I — Porque não tem dinheiro. Agora bebe. Sei que a fazenda se desorganizou durante uma semana toda! Por­que o senhor que a administra em nome de seu pai foi to­mar pifões de 24 horas com o administrador na Casa Gran­de. Foi retirado semivivo de uma forma de vômito. Sabe, um dia os colonos hão de levantar-lhe uma estátua de vômito, depois de tê-lo enforcado...

PERDIGOTO (Calmo.) — Irão depois às cidades e à capital... le­vantar estátuas idênticas aos usurários.

ABELARDO I — Miserável!

PERDIGOTO — Ladrão!

ABELARDO I — Diga o que quer!

Silêncio.

PERDIGOTO — Tenho notado lá e em algumas propriedades vizi­nhas um descontentamento crescente entre os colonos. Eles estão ficando incontentáveis.

ABELARDO I — Naturalmente... Sempre foram incontentáveis...

PERDIGOTO — Estão ficando insolentes, até desaforados. Ora, só há um remédio. É preciso castigar e meter medo. Eu tenho velhos amigos, quase todos desocupados... Gente disposta... Que sabe brigar...

ABELARDO I — Já sei! A escória notâmbula de São Paulo, os de­porta de bar, os faróis de clube de jogo, os gigolôs de lupanar...

PERDIGOTO — Todos pertencentes a excelentes famílias...

ABELARDO I — Como você!

PERDIGOTO — Tenho um projeto. Dar-lhes ocupação. Apro­veitá-los.

ABELARDO I — Que ocupação pode ter essa ralé?

PERDIGOTO — Uma camisa de cor basta! Armas, munições e...

ABELARDO I — Dinheiro!

PERDIGOTO — Fora de brincadeira. A situação obriga a isso. Or­ganizemos uma milícia patriótica. Que acha? Nos instalare­mos provisoriamente na Casa central. Combinaremos com os outros fazendeiros. Arrolaremos gente, a capangada está sempre pronta... Será o nosso quartel-general. E se a colô­nia der um pio...

ABELARDO I — Será o massacre... Processos conhecidos!

PERDIGOTO — Claro. Os corvos engordarão! E a paz voltará de novo sobre a fazenda antiga!

ABELARDO I (Depois de um silêncio.) — Quanto quer?

PERDIGOTO — Dez contos!

ABELARDO I — Sei que vai jogar esse dinheiro. Tentar uma últi­ma parada. Parasita! (Reflete.) Mas sua idéia não é má. Não deve ser sua. Aliás é uma cópia do que está se fazendo nos países capitalistas em desespero! (Prepara um cheque.) Pronto! Se dentro de uma semana não estiver organizada a milícia, ponho-o na cadeia!

PERDIGOTO — Por ter sido seu amigo?

ABELARDO I — Não, porque falsificou minha assinatura numa le­tra de treze contos que foi descontada por Pereira & Irmão. Desmoralizando-me com essa quantia ridícula! Mas já to­mei providências.

PERDIGOTO — Sabia isso também?

ABELARDO I — Quer que lhe dê mais detalhes de sua vida?

PERDIGOTO (Fazendo alusão ao cheque que mostra ao sair.) — Não! Por hoje basta.

MENOS PERDIGOTO.

ABELARDO I — Crápulas! Sujos! Um é o Totó Fruta-do-Conde! O outro, este bêbedo perigoso. Virou fascista agora. Minha cunhada veio sentar de maillot no meu colo para eu coçar-lhe as nádegas... com cheques naturalmente. A sogra caí­da... A outra velha... E eu é que devo me sentir honradíssi­mo... por entrar numa família digna, uma família única.

MAIS HELOÍSA.

HELOÍSA (Entra em maiô.) — Você não vai ao banho? Estão to­dos prontos.

ABELARDO I — Não vou! Estou com um pouco de dor de cabeça. Prefiro repousar. Leve esse Americano duma figa... Minha cara, eu estou vendo que peguei no duro, no batente, du­rante dez anos, para fazer uma porção de piratas jogarem ioiô!

HELOÍSA — Estás arrependido? Não te trago vantagens sociais? fí­sicas? Políticas... bancárias...

ABELARDO I — Mas que às vezes, de repente, perco a confiança. É como se o chão me faltasse. Sei que as tuas relações são boas. Amanhã teremos um jantar de congraçamento sob as estrelas do pavilhão yankee. Até o mais degenerado dos teus irmãos me será útil.

HELOÍSA — O Frutinha?

ABELARDO I — Por enquanto o outro. O ébrio. Vai fundar a pri­meira milícia fascista rural de São Paulo. Quem vai se rega­lar é o tal Cristiano de Bensaúde... o escritor... você sabe. Ele vem amanhã...

HELOÍSA — O tal que você chamava de sociólogo angélico, ia man­dar fazer um samba para ele O pirata jejuador?

ABELARDO I (Rindo.) — É. A gente nos momentos difíceis é obri­gado a fazer concessões. Depois o Americano quer união, das confissões religiosas, dos partidos... É preciso justificar, perante o olhar desconfiado do povo, os ócios de uma clas­se. Para isso nada como a doutrina cristã...

HELOÍSA — Hein? Você já está assim?

ABELARDO I — O catolicismo declara que esta vida é um simples trânsito. De modo que os que passaram mal, trabalhando para os outros, devem se resignar. Comerão no céu...

HELOÍSA — E os outros?

ABELARDO I — Os outros não precisam nem acreditar. Podem até adotar o cepticismo ioiô. A vida é um eterno ir e vir... ioiô...

HELOÍSA — E quando enrosca?

ABELARDO I — Aí apela-se para Schopenhauer. E imediatamen­te adota-se a filosofia do tiro no ouvido... Deve doer, não? o mundo então é uma miséria. Como Deus, não existe mais. Só há um remédio. O salto no Nirvana.

HELOÍSA — Por isso é que você se aniquilou em mim

ABELARDO I — De fato, a minha vida enroscou na sua, Heloísa. Num momento grave, em que é preciso lutar e vencer. Sem piedade. De uma maneira fascista mesmo. Vou me aliar ao Perdigoto e ao Bensaúde. Eles têm utilidade.

HELOÍSA — Você disse que aqui isso não seria possível.

ABELARDO I — Tenho estudado melhor. Somos parte de um to­do ameaçado — o mundo capitalista. Se os banqueiros imperialistas quiserem... Você sabe, há um momento em que a burguesia abandona a sua velha máscara liberal. Declara-se cansada de carregar nos ombros os ideais de justiça da hu­manidade, as conquistas da civilização e outras besteiras! Or­ganiza-se como classe. Policialmente. Esse momento já soou na Itália e implanta-se pouco a pouco nos países onde o pro­letariado é fraco ou dividido...

HELOÍSA — Então vou já brincar de jacaré com o Americano.

ABELARDO I — Vai! Ele é Deus Nosso Senhor do Arame... Brin­ca, meu bem.

Heloísa sai pela esquerda. Atrás dela, chamando-a, apare­ce, pela direita, em maiô centenário, que lhe cobre as ca­nelas, D. Polaca.

MENOS HELOÍSA, MAIS D. POLOCA.

D. POLOCA — Heloísa! Heloísa!

ABELARDO I (Barrando-lhe o caminho.) — De novo a sós! Sabe! Respeito-a porque a senhora é o passado puro! Que não re­laxa! O cerne! O cerne!

D.POLOCA (Lisonjeada.) — Chaleira!

ABELARDO I (Depois de um silêncio.) Diga, tia Coisa! Diga-me se­riamente se a senhora tivesse um milhão de dólares o que faria?

D. POLOCA — Ora! Fabulista!

ABELARDO I — Diga. Eu preciso saber. Eu quero saber! Por exem­plo, se eu estourasse os miolos e lhe deixasse tudo o que tenho...

D. POLOCA — Quer me fazer de idiota? Não faz não!

ABELARDO I — Não. Quero mesmo saber. Diga. Qual é o seu grande ideal? O que faria se recebesse um milhão?

D. POLOCA — Iria a Petrópolis.

ABELARDO I (Ajoelhando-se.) — Deixe-lhe beijar os pés! Santi­nha! O maiô pelo menos! (Levanta-se.) Pois olhe, há de ser comigo. Eu lhe dou uma viagem a Petrópolis! Tomaremos nós dois sozinhos a lancha. Sulcaremos a baía. Jantaremos no Rio num grande restaurante. Mas à noite... À noite...

D. POLOCA — Uma noite de amor! Nesta idade!

ABELARDO I — A primeira!... Diga que aceita...

D. POLOCA — Olhe que eu não sou de ferro!

ABELARDO I — Vou mandar preparar a lancha... E uns bolinhos.

D. POLOCA — Uns pés-de-moleque! Aba-fa!

ABELARDO I — Abafa (Saindo pela direita. Atira um beijo... dois...) Ao luar! Esta noite!

TELA

 
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